Um estudo de ciência de dados conduzido pelo Departamento de Informática em Saúde da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, coordenado pelo Professor Luciano Rodrigo Lopes, analisou a evolução da COVID-19 no estado de São Paulo e mostrou que, apesar dos avanços conquistados com a vacinação, a doença ainda representa um importante desafio de saúde pública. A pesquisa destacou que, mesmo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar, em maio de 2023, que a COVID-19 não constituía mais uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, o vírus continuou circulando de forma significativa, mantendo impacto superior ao de outras doenças infecciosas.
O estudo foi realizado com base em dados públicos do governo do Estado de São Paulo (Fundação SEADE) e do Ministério da Saúde. As analises abrangeram três períodos: o pré-vacinação, o de vacinação em massa e o período posterior à declaração da OMS. Os resultados mostraram uma redução expressiva nos casos, hospitalizações e óbitos após o início da imunização em larga escala, mas também evidenciaram o efeito da queda na adesão às vacinas nos anos seguintes.
Durante a fase anterior à vacinação, que engloba o início da pandemia até antes da vacinação em massa, o Estado de São Paulo registrava, em média, 54 mil novos casos e 1.800 mortes por semana. Com a campanha de imunização, esses números caíram para cerca de 30 mil casos e 590 mortes semanais. Os números de casos e mortes permaneceram baixos após o anúncio da OMS. A média semanal de novos casos se estabilizou em torno de 3.800, mas o vírus continuou ativo. E de modo preocupante, a taxa de vacinação despencou — em 2024, o número de doses mensais aplicadas chegou a menos de 10% do pico registrado em 2021.
A COVID-19 foi responsável por mais mortes do que dengue, HIV/AIDS, tuberculose, hepatites virais e influenza. Mesmo em 2024 — ano em que o Brasil enfrentou a pior epidemia de dengue já registrada — a COVID-19 causou maior número de mortes. Apenas a pneumonia viral apresentou número de óbitos superior. Esses resultados mostram que, embora os indicadores epidemiológicos tenham melhorado, a COVID-19 permanece entre as principais causas de morte por doenças infecciosas em São Paulo.
A queda na adesão às vacinas após o fim da emergência global foi interpretada como reflexo da percepção equivocada de que a pandemia teria terminado. A pesquisa destaca que a manutenção da imunização em alta escala, aliada à comunicação clara e contínua com a população, é essencial para evitar novos aumentos de casos e consolidar os avanços obtidos.
O estudo também chamou atenção para o impacto da COVID longa, condição que afeta uma parcela expressiva de pessoas que tiveram a infecção, com sintomas prolongados como fadiga, falta de ar e dificuldades cognitivas. Além disso, os pesquisadores ressaltaram o risco de surgimento de novas variantes virais e até mesmo de transmissões entre humanos e animais silvestres, fenômeno conhecido como spillback, que poderia dar origem a novos surtos no futuro.
Os autores defendem que o controle da COVID-19 no Brasil depende de vigilância constante, resposta rápida a novas variantes e fortalecimento das campanhas de vacinação — não apenas como medida emergencial, mas como política permanente de saúde pública.