Uma homenagem aos educadores que moldam o futuro da saúde no dia do professor
Ser professor de saúde digital representa estar na vanguarda de uma revolução educacional. Estes profissionais enfrentam desafios únicos, como a falta de infraestrutura e a resistência institucional, mas também aproveitam oportunidades sem precedentes para transformar a saúde através da tecnologia e formar a próxima geração de profissionais digitalmente capacitados.
No dia em que celebramos os professores brasileiros, é fundamental reconhecer uma categoria especial de educadores: aqueles que estão construindo pontes entre a saúde tradicional e o futuro digital. Os professores de saúde digital são os arquitetos de uma transformação que vai muito além de simplesmente "usar computadores", redefinindo como pensamos, ensinamos e praticamos a saúde no século XXI.
A saúde digital, também conhecida como informática médica ou informática em saúde, é um campo interdisciplinar que combina tecnologia da informação, ciências da saúde e gestão para melhorar o cuidado ao paciente, a pesquisa médica e a educação em saúde [1]. Para os professores desta área, isso implica dominar não apenas conceitos médicos tradicionais, mas também programação, análise de dados, inteligência artificial, ética digital e regulamentação tecnológica.
Conforme uma das visões coletadas em pesquisas recentes, "É como ser um tradutor entre dois mundos. Precisamos falar tanto a linguagem da medicina quanto a da tecnologia, e ensinar nossos alunos a serem bilíngues nessas duas áreas."
No Brasil, ser professor de saúde digital frequentemente significa ser um autodidata. Pesquisas recentes identificaram que a principal barreira para o ensino efetivo nesta área é a falta de formação docente específica [1]. Diferentemente de disciplinas médicas tradicionais, que possuem uma longa tradição de mentoria e especialização, a saúde digital exige que os professores desenvolvam competências em áreas que muitas vezes não fizeram parte de sua formação inicial.
Uma das fontes consultadas comenta que "Muitos de nós somos médicos que se apaixonaram pela tecnologia ou tecnólogos que se especializaram em saúde. Isso cria uma riqueza de perspectivas, mas também desafios únicos de credibilidade e integração curricular."
Os professores brasileiros de saúde digital enfrentam uma sobrecarga de responsabilidades que vai além do ensino tradicional [1]. Eles precisam desenvolver currículos do zero, dada a ausência de modelos consolidados; criar materiais didáticos específicos para o contexto brasileiro; formar-se continuamente em tecnologias que evoluem rapidamente; justificar constantemente a relevância de suas disciplinas; e integrar conhecimentos clínicos com competências tecnológicas.
A falta de infraestrutura adequada continua sendo um dos maiores obstáculos [2], abrangendo não apenas equipamentos e conectividade, mas também acesso a plataformas especializadas, laboratórios de informática médica e ambientes de simulação digital.
No entanto, a pandemia de COVID-19 trouxe uma aceleração inesperada. Iniciativas como o Conecte SUS e a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) criaram novas possibilidades para o ensino baseado em dados reais e casos clínicos digitais [9].
Na Europa, especialmente em países como Alemanha e Holanda, o ensino de saúde digital está mais integrado aos currículos médicos tradicionais. Estudos mostram que equipes interdisciplinares (informática + clínica) facilitam significativamente a aprendizagem [6]. Um projeto alemão, por exemplo, documentou como a colaboração entre professores de medicina e informática resultou em melhor avaliação dos alunos e maior retenção de conhecimento. "A chave é não ver a tecnologia como algo separado da medicina, mas como parte integral da prática clínica moderna", explica um dos relatórios analisados.
Nos EUA, há uma forte ênfase em metodologias ativas e aprendizagem baseada em problemas. Professores americanos relatam sucesso com simulações clínicas digitais, análise de casos reais usando big data, projetos colaborativos com a indústria de tecnologia e integração com sistemas de saúde regionais.
O dia típico de um professor de saúde digital é uma mistura única de atividades. Pela manhã, ele pode estar analisando algoritmos de machine learning para diagnóstico por imagem. À tarde, pode estar em uma reunião clínica discutindo protocolos de telemedicina. À noite, pode estar desenvolvendo um aplicativo educativo para estudantes.
Esses educadores assumem papéis diversos, atuando como pesquisadores, investigando novas aplicações de tecnologia em saúde; desenvolvedores, criando ferramentas e plataformas educativas; consultores, assessorando hospitais na implementação de sistemas digitais; mentores, orientando a próxima geração de profissionais híbridos; e tradutores, facilitando a comunicação entre equipes técnicas e clínicas.
Pesquisas recentes com estudantes e professores europeus e brasileiros identificaram lacunas curriculares importantes [5]. Os professores de saúde digital têm sido pioneiros em metodologias educacionais inovadoras, como a aprendizagem baseada em dados reais (uso de datasets anonimizados para ensino prático), simulações digitais (ambientes virtuais que replicam cenários clínicos), hackathons educativos (competições para desenvolver soluções em saúde) e parcerias com startups (projetos reais com empresas de tecnologia em saúde).
O campo da saúde digital no Brasil ainda está em formação, o que representa tanto desafio quanto oportunidade. Estudos mostram que programas de pós-graduação específicos em Saúde Digital ainda são poucos no país, criando uma demanda crescente por professores qualificados [4].
Professores de saúde digital frequentemente encontram oportunidades além da academia, como consultoria para hospitais implementando prontuários eletrônicos, desenvolvimento de produtos para empresas de tecnologia em saúde, pesquisa aplicada em parceria com a indústria e formação corporativa para profissionais já formados.
Embora dados específicos sobre remuneração sejam limitados, profissionais da área relatam que a combinação de expertise médica e tecnológica é altamente valorizada no mercado, tanto para posições acadêmicas quanto corporativas.
Um professor entrevistado comenta que "O que ensino hoje pode estar desatualizado em dois anos", ressaltando que a velocidade da evolução tecnológica exige atualização constante e flexibilidade curricular. Muitos professores enfrentam resistência de colegas mais tradicionais que questionam a relevância da tecnologia na formação médica, com alguns ainda vendo a informática médica como "coisa de engenheiro", não de médico.
A ausência de diretrizes curriculares nacionais específicas para saúde digital cria inconsistências entre instituições e dificulta a mobilidade acadêmica.
A pandemia acelerou a adoção de metodologias híbridas no ensino de saúde digital. Professores relatam que elementos como teleconsultas educativas supervisionadas, análise colaborativa de dados em tempo real, simulações clínicas remotas e laboratórios virtuais de informática médica tornaram-se ferramentas permanentes no arsenal pedagógico [10]. Alguns professores pioneiros estão experimentando com IA para personalização do aprendizado, criando sistemas que adaptam o conteúdo ao ritmo e estilo de aprendizagem de cada aluno.
A COVID-19 criou um laboratório natural para o ensino de saúde digital. Professores relatam que conceitos que antes eram teóricos – como telemedicina, monitoramento remoto e análise de dados epidemiológicos – tornaram-se realidade prática da noite para o dia. A experiência pandêmica ensinou que a flexibilidade curricular é essencial, parcerias com o setor público podem acelerar a inovação, estudantes são mais receptivos à tecnologia do que se imaginava e a infraestrutura digital é questão de segurança nacional.
Professores de saúde digital estão se preparando para ensinar sobre medicina de precisão baseada em genômica, realidade virtual e aumentada para treinamento médico, blockchain para segurança de dados em saúde, Internet das Coisas Médicas (IoMT) e computação quântica aplicada à descoberta de medicamentos. A tendência é que a saúde digital deixe de ser uma disciplina separada para se tornar um componente transversal em toda a formação médica, similar ao que aconteceu com a bioestatística décadas atrás. Há uma crescente demanda por programas específicos de formação docente em saúde digital, incluindo aspectos pedagógicos únicos desta área interdisciplinar.
Aos professores de saúde digital do Brasil e do mundo, o reconhecimento vai muito além do ensino tradicional. Vocês são os arquitetos do futuro da medicina, os tradutores entre mundos que pareciam incompatíveis, os pioneiros de uma revolução que está apenas começando. Seu trabalho não se limita às salas de aula – vocês estão literalmente salvando vidas ao formar profissionais capazes de usar a tecnologia para diagnósticos mais precisos, tratamentos mais eficazes e cuidados mais erem os construtores de pontes entre o presente e o futuro da medicina. O mundo da saúde é melhor e mais promissor por causa do trabalho de vocês.
[1] Guimarães Rodrigues, I., Ferreira, S. H. D., & Santos, G. M. dos. (2022). Docência no ensino superior em saúde e uso de tecnologias digitais de informação e comunicação. https://editorascience.com.br/livros/ebook0009/
[2] Britto, N. P., & Furtado, E. (2023). Estratégias e Desafios na Adoção de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação pelos Docentes Brasileiros Durante a Pandemia de COVID-19. https://sol.sbc.org.br/index.php/wie/article/view/26400
[3] Costa Filho, R. A. da, & Iaochite, R. T. (2021). Aprendizagem em saúde na e da escola mediada por tecnologias digitais de informação e comunicação: resultado de estudos no Brasil. ETD: Educação Temática Digital. https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8659314
[4] Gaspar, J. de S., et al. (2024). Ensino de Saúde Digital no Brasil: estado da arte dos Programas de Pós-graduação Stricto Sensu. Journal of health informatics. https://jhi.sbis.org.br/index.php/jhi-sbis/article/view/1378
[5] Machleid, F., et al. (2020). Perceptions of Digital Health Education Among European Medical Students: Mixed Methods Survey. J Med Internet Res. https://www.jmir.org/2020/8/e19827/
[6] Behrends, M., et al. (2021). Interdisciplinary Teaching of Digital Competencies for Undergraduate Medical Students - Experiences of a Teaching Project by Medical Informatics and Medicine. Medical Informatics Europe. https://ebooks.iospress.nl/doi/10.3233/SHTI210307
[7] Silva, D. S. M. da, et al. (2022). Active methodologies and digital technologies in medical education: new challenges in pandemic times. https://scielo.figshare.com/articles/dataset/Active_methodologies_and_digital_technologies_in_medical_education_new_challenges_in_pandemic_times/20005277
[8] Nitsche, J., Busse, T. S., Kernebeck, S., & Ehlers, J. P. (2022). Virtual Classrooms and Their Challenge of Interaction—An Evaluation of Chat Activities and Logs in an Online Course about Digital Medicine with Heterogeneous Participants. Int. J. Environ. Res. Public Health. https://www.mdpi.com/1660-4601/19/16/10184
[9] Donida, B., Costa, C. A. da, & Scherer, J. N. (2021). Making the COVID-19 Pandemic a Driver for Digital Health: Brazilian Strategies. JMIR Public Health Surveill. https://publichealth.jmir.org/2021/6/e28643
[10] Massucato, M. A. O., et al. (2021). Telehealth as a medical education tool during the COVID-19 pandemic: experience report. https://www.scielo.br/j/rbem/a/dDWm3HhdcXbh4mQ6fZzR9Pj/?lang=en
[11] Pantaleão, A. N., et al. (2024). Fostering Digital Health in Universities: An Experience of the First Junior Scientific Committee of the Brazilian Congress of Health Informatics. Healthcare Informatics Research. https://e-hir.org/journal/view.php?doi=10.4258/hir.2024.30.1.83
[12] Challenging the current pharmacy curriculum: why a focus on digital health can lead to innovations in the future of pharmacy. (2023). The Pharmaceutical Journal. https://pharmaceutical-journal.com/article/letters/challenging-the-current-pharmacy-curriculum-why-a-focus-on-digital-health-can-lead-to-innovations-in-the-future-of-pharmacy
[13] Qing, H. (2024). Topics and trends of health informatics education research: scientometric analysis. JMIR Med Educ. https://mededu.jmir.org/2024/1/e58165