Artigo do Prof. João Brainer Clares de Andrade e equipe destaca a importância da inovação e integração tecnológica para sistemas de saúde mais equitativos e resilientes
A transição global para a saúde digital representa uma oportunidade crucial para transformar a prestação de cuidados de saúde, especialmente em países de baixa e média renda (PBMR). O cuidado do Acidente Vascular Cerebral (AVC) exemplifica a necessidade de gestão oportuna, coordenada e longitudinal em todos os sistemas de saúde. Embora progressos substanciais tenham sido alcançados, os PBMR continuam a enfrentar desafios persistentes, incluindo deficiências infraestruturais, iniquidade digital, estruturas de governança fragmentadas e limitações na força de trabalho em saúde.
No entanto, intervenções escaláveis de saúde digital, como redes de telestroke, plataformas de saúde móvel (mHealth), diagnósticos apoiados por inteligência artificial e programas de telerreabilitação, demonstraram eficácia e impacto em diversos contextos. O artigo "Digital Health in Low-Resource Settings: Comprehensive Challenges and Opportunities With a Focus on Stroke Care", de João Brainer Clares de Andrade e equipe, publicado na Stroke, aborda essas questões de forma aprofundada, destacando a importância de uma abordagem abrangente e centrada no ser humano para que a saúde digital sirva como um catalisador para sistemas de saúde mais equitativos, resilientes e sustentáveis, particularmente para populações que residem em ambientes com recursos limitados.
O principal desafio, portanto, mudou do desenvolvimento tecnológico para a integração sistêmica dessas soluções nas infraestruturas de saúde existentes. Crucialmente, os PBMR não devem ser percebidos apenas como receptores passivos de tecnologia, mas como agentes ativos de inovação, desenvolvendo modelos eficientes, adaptativos e culturalmente ajustados que priorizem o engajamento comunitário e uma concepção holística da saúde.
Para concretizar o potencial transformador da saúde digital, é imperativo investir não apenas em infraestrutura tecnológica, mas também em promover a alfabetização digital, estabelecer estruturas éticas e regulatórias robustas, fomentar parcerias intersetoriais e criar ecossistemas de inovação inclusivos. Somente por meio de uma abordagem tão abrangente e centrada no ser humano a saúde digital pode efetivamente servir como um catalisador para sistemas de saúde mais equitativos, resilientes e sustentáveis, especialmente para populações que residem em ambientes com recursos limitados. O artigo detalha diversos desafios, como a exclusão digital, que abrange limitações infraestruturais, questões de acessibilidade, falta de habilidades digitais relevantes e iniquidades sociais sistêmicas que restringem o acesso significativo às tecnologias de saúde. A baixa alfabetização digital entre profissionais de saúde e pacientes em PBMR também é um obstáculo significativo. No entanto, o estudo também aponta para oportunidades, como a telemedicina (especialmente o telestroke), o uso de registros eletrônicos de saúde (EHRs) e o papel das mídias sociais na comunicação em saúde e prevenção de doenças.
O telestroke, por exemplo, tem se mostrado eficaz na extensão do cuidado de AVC a populações carentes, permitindo avaliações e diagnósticos remotos. A inteligência artificial (IA) também surge como uma ferramenta promissora para diagnósticos e otimização de processos, embora o artigo ressalte a necessidade de validação contextual e transparência no design de algoritmos para evitar vieses.
Questões éticas, regulatórias e de segurança são abordadas como pontos cruciais para a adoção sustentável da saúde digital. A falta de estruturas legais abrangentes para proteção de dados, cibersegurança e telemedicina em muitos PBMR é um desafio. O artigo enfatiza a importância de uma governança participativa, com engajamento comunitário e design centrado no usuário, para garantir que as tecnologias de saúde digital reflitam as necessidades e valores das populações a que se destinam.
A transição global para a saúde digital representa não apenas um avanço tecnológico, mas uma oportunidade fundamental para reimaginar os sistemas de saúde, particularmente nos PBMR, onde a gestão do AVC exemplifica o imperativo de um cuidado oportuno, coordenado e longitudinal. O desafio central mudou do desenvolvimento tecnológico para a integração sistêmica dessas soluções nas infraestruturas de saúde existentes. O artigo de Andrade e equipe reforça que, com as políticas, colaborações e investimentos certos, esses países podem se tornar atores relevantes na transformação digital equitativa da saúde.
Autoria do texto original: João Brainer Clares de Andrade, Thales Pardini Fagundes, Eric Katsuyama, Gisele Sampaio Silva
Revisão técnica: João Brainer Clares de Andrade (Docente do Departamento de Informática em Saúde - EPM/Unifesp)
Adaptação para divulgação científica: Andréa Pereira Simões Pelogi (Comunicação)
Fonte: Resource Settings: Comprehensive Challenges and Opportunities With a Focus on Stroke Care
Revista: AHA|ASA Journals
Data de Publicação: 04/09/2025
Aviso: As informações apresentadas neste artigo têm caráter informativo e não substituem orientação profissional especializada. O Departamento de Informática em Saúde não se responsabiliza por eventuais erros ou interpretações incorretas do conteúdo divulgado.