Estudo revela que a Região Sul concentra taxas de suicídio acima da média nacional, com padrões sazonais e vulnerabilidades específicas que exigem políticas de prevenção adaptadas e focadas em grupos de maior risco
O comportamento suicida é uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo, atingindo cerca de um milhão de pessoas anualmente. Trata-se de um problema complexo de saúde pública, cuja ocorrência varia significativamente entre gêneros, faixas etárias, regiões geográficas e contextos socioculturais e político-econômicos, envolvendo múltiplos fatores de risco.
O suicídio pode ser resultado de adversidades que comprometem a saúde mental e o bem-estar social, não sendo apenas um ato individual. No Brasil, desde a década de 1990, as taxas vêm aumentando, o que reforça a necessidade de compreender suas particularidades regionais.
Um estudo recente desenvolvido na Unifesp — Characterization of Sociodemographic Profiles and Socioeconomic Correlates of Suicide Rates in the Southern Region of Brazil (2012–2021) — analisou casos ocorridos na última década e produziu resultados relevantes para o entendimento do cenário brasileiro, em especial na Região Sul. Essa região apresenta taxas de suicídio consistentemente superiores à média nacional, alcançando 11,5 casos por 100 mil habitantes em 2021. No mesmo ano, a taxa brasileira foi de 7,3 casos; a Região Centro-Oeste registrou 8,6, enquanto a Região Sudeste apresentou o menor índice anual, com 6,25 casos.
A pesquisa identificou crescimento contínuo das taxas de suicídio em todos os estados da Região Sul, com forte padrão sazonal: aumento nos meses de janeiro e dezembro e diminuição durante o inverno, sugerindo influência de fatores ambientais e sociais, como clima e períodos festivos.
Aspectos econômicos e educacionais também se destacaram. O desalento — quando a pessoa desiste de procurar emprego — mostrou forte correlação com o aumento dos casos. O desemprego, a perda de renda e a queda no status social contribuem para sentimentos de desesperança. Além disso, embora apresente maior desenvolvimento econômico, o Sul exibe vulnerabilidades específicas. Municípios mais urbanizados e com melhores indicadores no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), especialmente na dimensão Educação, apresentaram taxas mais elevadas, possivelmente refletindo o impacto das altas expectativas acadêmicas e profissionais, que tornam os fracassos mais visíveis e socialmente significativos. Esses achados reforçam que o suicídio resulta da interação complexa de múltiplos fatores, e não de um determinante isolado.
Figura: Tendência e sazonalidade
O estudo identificou diferentes perfis populacionais com maior risco na Região Sul: homens brancos, solteiros, de 40 a 59 anos no Rio Grande do Sul, que representam o grupo com maior número de casos e demandam cuidados urgentes; mulheres brancas, casadas, de 25 a 39 anos no Paraná, expostas a pressões sociais e familiares; homens idosos, casados, acima de 60 anos em Santa Catarina, evidenciando vulnerabilidade e necessidade de atenção à saúde mental na terceira idade; e jovens brancos, solteiros, de 18 a 24 anos no Paraná, que enfrentam elevadas expectativas e requerem políticas e apoios específicos.
Figura: Perfis populacionais com maior risco na Região Sul.
O suicídio na Região Sul do Brasil é, portanto, um fenômeno multifatorial, moldado por determinantes sociais, econômicos e ambientais. A prevenção deve ser planejada de forma adaptada às especificidades regionais e sazonais, com prioridade aos grupos mais vulneráveis. Mais do que números, os dados evidenciam a urgência de políticas públicas, redes de apoio e ações integradas em saúde mental, envolvendo profissionais, famílias, instituições e gestores.
🆘 Se você ou alguém que você conhece está passando por sofrimento intenso ou apresentando sinais de risco de suicídio, busque ajuda.
No Brasil, o CVV – Centro de Valorização da Vida oferece apoio emocional e prevenção do suicídio de forma gratuita e sigilosa, 24 horas por dia:
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Procure também os serviços de saúde da sua região: UBS, CAPS e hospitais de referência em saúde mental estão disponíveis para acolher e orientar.
Você não está sozinho(a). 💙
Autoria do texto original: Andre Massahiro Shimaoka, Antonio Carlos da Silva Junior, José Marcio Duarte, Luciano Rodrigo Lopes, Richard Alecsander Reichert, Júlio Cézar Gonçalves do Pinho, Denise De Micheli & Paulo Bandiera-Paiva
Revisão técnica: Andre Massahiro Shimaoka (Pesquisador do Departamento de Informática em Saúde - DIS/EPM/Unifesp) e Luciano Rodrigo Lopes (Docente do DIS/EPM/Unifesp)
Adaptação para divulgação científica: Andréa Pereira Simões Pelogi (Comunicação)
Revista: Trends in Psychology
Data de Publicação: 09/09/2025
Aviso: As informações apresentadas neste artigo têm caráter informativo e não substituem orientação profissional especializada. O Departamento de Informática em Saúde não se responsabiliza por eventuais erros ou interpretações incorretas do conteúdo divulgado.