Tecnologia e inovação transformam a assistência, reduzindo riscos e elevando a qualidade dos cuidados em saúde
Em 17 de setembro, o mundo celebra o Dia Mundial da Segurança do Paciente, uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) que visa aumentar a conscientização e o engajamento global para a segurança na assistência à saúde. A data, proclamada em 2019 pela 72ª Assembleia Mundial da Saúde, reforça a importância de garantir que os cuidados de saúde sejam seguros e de alta qualidade para todos, desde o nascimento.
O ser humano erra, mas um bom software não. O cansaço, o estresse, a má formação, a falta de compromisso ou de qualificação impactam diretamente a segurança. Esses erros não atingem apenas os pacientes, mas também suas famílias, os médicos, a equipe de apoio, as unidades de saúde e até a comunidade. Profissionais envolvidos podem sofrer efeitos psicológicos profundos — raiva, culpa, inadequação, depressão e até ideação suicida — frequentemente agravados pela ameaça de ações legais 【NCBI, 2018】.
Foi a própria OMS que, há algumas décadas, inaugurou o olhar global para a segurança do paciente, em um momento em que o tema quase não era discutido. O número de mortes por iatrogenias era assustador. Embora ainda alto, vem diminuindo graças às políticas globais de segurança e ao uso de inovações digitais.
Segundo a OMS, cerca de 1 em cada 10 pacientes sofre algum tipo de dano durante a assistência em saúde, e até 50% desses eventos poderiam ser prevenidos. Estima-se que os erros de medicação causem perdas de 42 bilhões de dólares ao ano em todo o mundo, além de danos permanentes e óbitos 【WHO, 2024】.
A saúde digital, que engloba tecnologias como prontuários eletrônicos, telemedicina, inteligência artificial e dispositivos vestíveis, tem se mostrado um catalisador fundamental para aprimorar a segurança do paciente. A digitalização de processos e informações permite uma gestão mais eficiente, reduzindo erros humanos e otimizando a tomada de decisões clínicas. Estudos recentes apontam um crescimento acelerado da produção científica na área, impulsionado pela necessidade de soluções inovadoras para os desafios da saúde moderna.
Os prontuários eletrônicos são a espinha dorsal da saúde digital. Ao centralizar o histórico de saúde do paciente, eles garantem que informações cruciais estejam disponíveis para todos os profissionais de saúde envolvidos no cuidado, independentemente do local. Isso minimiza a ocorrência de erros de medicação, duplicação de exames e falhas na comunicação entre equipes. Além disso, sistemas digitais já ajudam a reduzir erros de prescrição e melhorar a vigilância clínica 【SAGE, 2024】. A interoperabilidade, ou seja, a capacidade de diferentes sistemas de saúde trocarem e interpretarem dados, é um dos maiores desafios e, ao mesmo tempo, uma das maiores promessas da saúde digital para a segurança do paciente. Quando bem implementada, a interoperabilidade assegura uma visão completa e atualizada do paciente, prevenindo eventos adversos e promovendo um cuidado mais coordenado.
A telemedicina, que ganhou destaque e regulamentação acelerada durante a pandemia de Covid-19, expandiu o acesso a cuidados de saúde e, consequentemente, a segurança do paciente em diversas frentes. Consultas virtuais, monitoramento remoto de pacientes crônicos e teleinterconsultas permitem que pacientes recebam atenção médica sem a necessidade de deslocamento, reduzindo riscos de infecções hospitalares e garantindo a continuidade do tratamento, especialmente em áreas remotas. Dispositivos vestíveis e sensores inteligentes coletam dados em tempo real, alertando profissionais sobre alterações significativas e possibilitando intervenções precoces, o que é vital para a prevenção de complicações.
A inteligência artificial e a análise de grandes volumes de dados (Big Data) estão revolucionando a segurança do paciente. Algoritmos de IA podem identificar padrões em dados clínicos que seriam imperceptíveis ao olho humano, prevendo riscos de doenças, reações adversas a medicamentos e até mesmo surtos infecciosos. A análise preditiva permite que os sistemas de saúde atuem proativamente, implementando medidas preventivas antes que os problemas se manifestem. Além disso, a IA pode auxiliar na personalização de tratamentos, na otimização de fluxos de trabalho e na identificação de áreas onde a segurança do paciente pode ser aprimorada, tornando a assistência mais eficaz e menos propensa a erros.
Apesar dos inúmeros benefícios, a implementação da saúde digital para a segurança do paciente enfrenta desafios. A proteção da privacidade e a segurança dos dados são preocupações primordiais, exigindo robustos sistemas de cibersegurança e regulamentações claras. A necessidade de capacitação de profissionais de saúde para o uso eficaz das novas tecnologias e a superação da resistência à mudança também são fatores críticos. No entanto, o futuro aponta para uma integração cada vez maior da tecnologia na saúde. Iniciativas como a Estratégia Nacional de Saúde Digital 2023–2033 no Brasil e o Programa SUS Digital demonstram um compromisso contínuo em alavancar a tecnologia para construir um sistema de saúde mais seguro, eficiente e centrado no paciente. A colaboração entre governos, instituições de saúde, academia e setor privado será essencial para superar esses desafios e garantir que a revolução digital beneficie a todos, salvando vidas e promovendo o bem-estar.
A saúde digital, que engloba telemedicina, prontuários eletrônicos, inteligência artificial e dispositivos vestíveis, tem se mostrado uma ferramenta poderosa para aprimorar a segurança do paciente. A digitalização de processos e a integração de dados permitem uma visão mais completa do histórico do paciente, reduzindo erros de medicação, diagnósticos equivocados e falhas na comunicação entre equipes de saúde.
Estudos recentes, como os destacados na literatura científica, apontam para um crescimento acelerado da produção científica em saúde digital, especialmente nos últimos cinco anos 【Silva, 2025】. Essa expansão é impulsionada pela necessidade de otimizar a governança, a integração e a qualidade dos dados, elementos cruciais para a transformação das operações de saúde【Patrício, 2025】.
Um dos principais benefícios da saúde digital é a capacidade de monitorar pacientes remotamente, especialmente aqueles com doenças crônicas. Dispositivos vestíveis e aplicativos de saúde permitem a coleta contínua de dados vitais, alertando profissionais de saúde sobre quaisquer anomalias e possibilitando intervenções rápidas. Isso não só melhora a qualidade de vida do paciente, mas também previne complicações e internações desnecessárias.
Além disso, a inteligência artificial está contribuindo para a segurança do paciente. Algoritmos de IA podem analisar grandes volumes de dados para identificar padrões e prever riscos, como a probabilidade de infecções hospitalares ou reações adversas a medicamentos. Sistemas de suporte à decisão clínica baseados em IA auxiliam médicos na escolha dos tratamentos mais eficazes e seguros, personalizando o cuidado e minimizando erros humanos.
Ainda assim, desafios como sobrecarga cognitiva, falhas de comunicação e desvios de protocolo continuam a ameaçar a segurança. A estrutura conceitual em seis pilares proposta por especialistas (governança, design centrado no ser humano, validação clínica, alfabetização digital, interoperabilidade e monitoramento contínuo) busca mitigar esses riscos 【Springer, 2025】.
Figura: Estrutura de segurança do paciente digital. Fonte: 【Springer, 2025】.
A OMS reforça em documento específico a importância de incorporar inovação e saúde digital para elevar a qualidade do cuidado e a segurança dos pacientes 【WHO Europe, 2024】.
O Plano de Ação para a Saúde Digital da OMS destaca que soluções digitais e o uso secundário de dados de saúde oferecem oportunidades únicas para construir serviços mais resilientes, além de melhorar a qualidade do atendimento.
Nesse contexto, o Escritório da OMS para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente, em Atenas, junto ao Digital Health Flagship, tem promovido colaborações internacionais para criar estratégias eficazes e inclusivas. O objetivo é cocriar soluções sustentáveis que garantam segurança e qualidade para todos os pacientes, em diferentes contextos culturais e econômicos.
No Brasil, a transformação digital no SUS avança a passos largos, com a digitalização do histórico de saúde dos pacientes na Atenção Primária e a expansão de plataformas como o ConecteSUS [3]. A Estratégia Nacional de Saúde Digital 2023–2033 visa consolidar essas iniciativas, promovendo a integração de sistemas e o uso de tecnologias inovadoras para melhorar a qualidade e a segurança dos serviços de saúde.
O futuro da segurança do paciente está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento e aplicação ética da saúde digital. Investimentos em pesquisa, infraestrutura e formação profissional são essenciais para construir um sistema de saúde mais seguro, eficiente e centrado no paciente, onde a tecnologia atua como um facilitador para um cuidado de excelência.
WHO. Patient safety. Fact sheets. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/patient-safety. Acesso em: set. 2025.
WHO Europe. Incorporating innovation and digital health to improve quality of care and patient safety. Disponível em: https://www.who.int/europe/activities/incorporating-innovation-and-digital-health-to-improve-quality-of-care-and-patient-safety. Acesso em: set. 2025.
World Health Organization. Global strategy on digital health 2020–2025. Disponível em: https://www.who.int/health-topics/digital-health#tab=tab_1. Acesso em: set. 2025.
SAGE Journals. Harnessing digital innovations for patient safety. Digital Health, 2024. DOI: 10.1177/25160435241285224.
Springer. Patient safety in digital triage: challenges and framework. Health and Technology, 2025. DOI: 10.1007/s12553-025-01001-6.
National Center for Biotechnology Information (NCBI). Patient Safety and Medical Errors. In: Patient Safety and Quality: An Evidence-Based Handbook for Nurses. Agency for Healthcare Research and Quality (US); 2008. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK499956/.
Saúde digital e seus impactos no acesso à atenção. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC12424261/. Acesso em: set. 2025.
Saúde digital: a tecnologia como catalisador de transformação na saúde. Datacolab. Disponível em: https://www.datacolab.pt/saude-digital-a-tecnologia-como-catalisador-de-transformacao-na-saude/. Acesso em: set. 2025.
Saúde Digital no Sistema Único de Saúde (SUS). Interface – Comunicação, Saúde, Educação. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/nZkyh3JK8dNkZMkxcPjg9gm. Acesso em: set. 2025.
Autoria do texto original: Andréa Pereira Simões Pelogi
Revisão técnica: Maria Elisabete Salvador (Docente do DIS/EPM/Unifesp)
Data de Publicação: 17/09/2025
Aviso: As informações apresentadas neste artigo têm caráter informativo e não substituem orientação profissional especializada. O Departamento de Informática em Saúde não se responsabiliza por eventuais erros ou interpretações incorretas do conteúdo divulgado.