Professor Ivan Torres Pisa apresenta iniciativas de inovação em informática em saúde e literacia digital no evento “Aldeia de Transformação Digital da Saúde na Amazônia”
Na última terça-feira (9), o professor Ivan Torres Pisa, do Departamento de Informática em Saúde da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, apresentou um panorama abrangente sobre a aplicação da inteligência artificial (IA) na saúde durante o lançamento da Aldeia de Transformação Digital da Saúde na Amazônia: Tecnologia e Inovação, realizado no auditório da Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
Com uma fala pautada na troca de experiências entre universidades e serviços de saúde, o pesquisador destacou projetos nacionais e iniciativas conduzidas em seu grupo de pesquisa que apontam para mudanças concretas na forma como o Brasil pode integrar tecnologia e inovação no cuidado em saúde.
Pisa iniciou destacando avanços recentes na política pública brasileira para IA e saúde digital, como:
O Programa SUS Digital, que desde 2024 triplicou investimentos federais em projetos de informatização da saúde e lançou o PET-Saúde Digital, apoiando 170 grupos em universidades de todo o país.
O Marco Legal da Inteligência Artificial, aprovado pelo Senado em dezembro de 2024 e em tramitação na Câmara, que traz segurança jurídica e diretrizes específicas para aplicações de IA em saúde.
O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que prioriza o setor de saúde entre as áreas de investimento.
Essas iniciativas, segundo o professor, representam oportunidades únicas para centros de pesquisa, universidades e estados como o Amazonas ampliarem sua infraestrutura em saúde digital.
Grupo de Interesse em IA na Saúde (SIDIAS – RUTE)
Criado em 2019 dentro da Rede Universitária de Telemedicina (RUTE), o grupo discute aplicações de IA em saúde envolvendo pesquisadores de diferentes instituições, incluindo UNIFESP, USP Ribeirão Preto, UFRGS, Universidade de Pelotas e agora parceiros da região amazônica. O objetivo é construir uma comunidade colaborativa de pesquisa e inovação.
Taxonomia de Intervenções em Saúde Digital
O projeto traduz e adapta para o contexto brasileiro a classificação da OMS de intervenções digitais em saúde. A proposta é oferecer uma ferramenta pública de padronização que permita comparar iniciativas, avaliar tecnologias e apoiar incubadoras e agências de inovação no desenho e na análise de projetos.
Avaliação de Literacia Digital em Saúde
Baseado no conceito internacional de inteligência digital, este projeto busca medir e desenvolver competências digitais de estudantes, profissionais de saúde e cidadãos. Com apoio do CNPq, a equipe criou uma autoavaliação online que gera relatórios individuais e recomenda cursos de capacitação disponíveis no Brasil.
O instrumento já foi aplicado a quase dois mil participantes e tem foco especial na atenção primária, com a perspectiva de integração futura ao aplicativo Meu SUS Digital.
Modelo de Maturidade para Telessaúde
Desenvolvido em parceria com o Ministério da Saúde desde 2021, o modelo possibilita que núcleos e serviços de telessaúde avaliem sua maturidade institucional, planejem estratégias e identifiquem pontos de melhoria. É o primeiro modelo formulado especificamente para o contexto do Sistema Único de Saúde.
O professor também apresentou resultados de pesquisas nacionais que mostram o crescimento da produção acadêmica em IA e saúde no Brasil e o forte entusiasmo de profissionais e estudantes diante das novas tecnologias. Porém, alertou para desafios persistentes, como:
a transição de protótipos universitários para soluções aplicáveis em larga escala;
a falta de normativas detalhadas para IA em saúde (ainda em evolução com o marco legal);
e a necessidade de integração segura de dados clínicos entre diferentes níveis de atenção.
Ao final de sua fala, Pisa ressaltou o simbolismo da criação da Aldeia de Transformação Digital da Saúde no Amazonas e defendeu que a tecnologia deve ser construída em rede, com base no contexto regional e em colaboração com políticas nacionais.
“Os dados em saúde são vida, e o esforço para transformá-los em inovação não pode ser isolado. É essencial que trabalharmos juntos, unindo universidades, governos e profissionais, para que os avanços em inteligência artificial cheguem de fato ao cidadão, seja em São Paulo ou em uma comunidade ribeirinha do Amazonas”, concluiu.