Saúde digital e o cuidado materno e neonatal: inovações para um futuro mais seguro
No Dia Mundial da Saúde de 2025, a tecnologia mostra seu potencial na promoção da saúde materna e neonatal
Introdução
O Dia Mundial da Saúde, comemorado em 7 de abril, traz anualmente à tona temas críticos à saúde global. Em 2025, o foco recai sobre a saúde materna e neonatal, destacando o papel da saúde digital na transformação dos cuidados às gestantes e recém-nascidos. Iniciativas que integram tecnologia à atenção primária e especializada oferecem novas oportunidades para enfrentar desafios históricos, reduzir riscos e melhorar desfechos clínicos.
Aplicações da saúde digital no cuidado materno-neonatal
A digitalização da saúde possibilita uma abordagem mais proativa, preventiva e personalizada no atendimento a gestantes e neonatos. Entre as principais aplicações estão:
📊 Dados em Tempo Real
Indicadores de saúde que permitam planejar estratégias e aprimorar o atendimento.
📄 Prontuário Eletrônico Integrado
Acesso universal ao histórico do paciente, garantindo continuidade do cuidado.
🏥 Monitoramento Intensivo Digital
Vigilância clínica aprimorada em hospitais.
⌚️ Aplicativos Móveis e Dispositivos Vestíveis (Wearables)
Monitoramento de sinais vitais e riscos.
📞 Telessaúde
Atendimentos remotos e acesso a especialistas
📚 Educação Digital
Informações acessíveis sobre sobre gestação, parto e cuidados neonatais
🌍 Populações Remotas
Conectividade para superar barreiras geográficas.
Evidências de impacto
Estudos recentes apontam benefícios concretos da saúde digital sobre a saúde materna e neonatal:
✅ Monitoramento remoto: monitoram em tempo real os sinais vitais e movimentos fetais, detectando precocemente complicações na gestação (Gupta et al., 2024).
✅ Aplicativos móveis e wearables: facilitam o engajamento das gestantes, aprimoram o controle de medições como a glicemia e personalizam planos de cuidado (Prihatini, 2024 e Digital health and telehealth for pregnancy, 2021).
✅ Telessaúde: reduz a necessidade de deslocamentos e permite o atendimento contínuo, contribuindo para a redução de partos prematuros (Gupta et al., 20204 e Brinson et al., 2023).
Desigualdades e desafios estruturais
Apesar do potencial das inovações digitais, persistem desafios que limitam sua adoção em larga escala:
Tecnologias emergentes e inteligência artificial
A incorporação de tecnologias avançadas têm potencial para revolucionar os cuidados materno-infantis:
Biossensores e wearables monitoram sinais vitais e parâmetros fetais (Prihatini, 2024; Gupta et al., 2024).
Plataformas digitais facilitam o diagnóstico de infecções maternas e neonatais, otimizando o uso de antibióticos (Ming et al., 2024).
Inteligência Artificial (IA) permite detecção precoce de complicações, como parto prematuro e pré-eclâmpsia (Khan et al., 2022; Ramakrishnan et al., 2021).
IA aplicada à neonatologia contribui para o diagnóstico de condições como sepse, displasia broncopulmonar e retinopatia da prematuridade, além de prever distúrbios do neurodesenvolvimento (Sullivan et al., 2024; Kwok et al., 2022).
Chatbots e aplicativos educativos auxiliam no apoio ao aleitamento, vacinação e recrutamento de doadoras de leite (Barreto et al., 2021; Correa et al., 2023).
Casos de sucesso: UTI Neonatal Digital
O Programa Parto Seguro, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, implantou a UTI Neonatal Neurológica Digital em hospitais da capital, como o Complexo Hospitalar Irmã Dulce, com suporte da PBSF:
“Atualmente, 40 hospitais e maternidades do Brasil e cinco centros internacionais usufruem da tecnologia da PBSF. Os dados de 7.500 recém-nascidos formam o maior banco de dados de monitoramento neonatal, usado para diagnósticos precoces com machine learning.” (CEJAM, 2023; Hospitais Brasil, 2023)
A IA também já é usada para detectar anomalias fetais com o dobro da velocidade da tecnologia convencional (King’s College London, 2025).
Barreiras à implementação
A plena adoção da saúde digital enfrenta obstáculos, especialmente em contextos vulneráveis (Brusniak et al., 2020):
Acesso restrito à internet e a dispositivos digitais.
Baixa alfabetização digital entre mulheres com menor escolaridade.
Ausência de políticas de capacitação tecnológica voltadas para gestantes.
Riscos de desigualdade no acesso às tecnologias, que podem ampliar as disparidades existentes.
A falta de integração entre os sistemas de informações ainda torna o compartilhamento de dados entre os Serviços de Saúde um desafio. Atualmente, o SUS busca soluções para a interoperabilidade.
Considerações éticas e regulatórias
A digitalização da saúde também traz à tona questões éticas importantes:
Privacidade dos dados e consentimento informado ainda são falhas comuns em projetos de saúde digital (Nemer et al., 2023; Jusuf et al., 2023).
A governança inadequada pode levar à desinformação ou práticas coercitivas (Paton, 2022).
A inclusão digital deve considerar aspectos culturais e garantir acesso equitativo aos cuidados de saúde (Hauwaert et al., 2024; “Ethical Considerations in Digital Health”, 2022).
Conclusão
A saúde digital apresenta um enorme potencial para transformar o cuidado materno e neonatal, reduzindo complicações, buscando equidade e melhorando a qualidade da atenção. No entanto, sua eficácia depende do enfrentamento de desafios estruturais, sociais e éticos. Para alcançar mudanças sustentáveis, é necessário investir em conectividade, alfabetização digital, infraestrutura e regulação transparente, garantindo que os avanços tecnológicos beneficiem todas as mães e bebês — especialmente os mais vulneráveis.
Elaborado por:
Aline Pimentel Vieira de Carvalho
Andre Massahiro Shimaoka
Andréa Pereira Simões Pelogi
Referências e Fontes
28 de maio – Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. (2012, janeiro 1). Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo. Recuperado em 3 de abril de 2025, de https://www.tjes.jus.br/28-de-maio-dia-nacional-de-reducao-da-mortalidade-materna/
Adjin-Tettey, T. D. (2020). Healthcare Gets Smarter: Smart and Digital Technology Usage by Maternal and Neo-Natal Healthcare Providers (pp. 39–55). IGI Global. https://doi.org/10.4018/978-1-7998-2521-0.CH003
Albuquerque, M. do S. V. de, Lyra, T. M., Lyra, T. M., Melo, A. P. L. de, Melo, A. P. L. de, Valongueiro, S., Barreto de Araújo, T. V., Pimentel, C., Moreira, M. C. N., Mendes, C. H. F., Nascimento, M., Kuper, H., & Penn-Kekana, L. (2019). Access to healthcare for children with Congenital Zika Syndrome in Brazil: perspectives of mothers and health professionals. Health Policy and Planning, 34(7), 499–507. https://doi.org/10.1093/HEAPOL/CZZ059
Barreto, I. C. H. C., Barros, N. B. S., Theophilo, R. L., Viana, V. F., Silveira, F. R. V., Souza, O., Sousa, F. J. G., Oliveira, A. M. B., & Andrade, L. O. M. (2021). Desenvolvimento e avaliação do protótipo da aplicação GISSA ChatBot Mamãe-Bebê para promoção da saúde infantil. Ciência & Saúde Coletiva, 26(5), 1679-1690. https://doi.org/10.1590/1413-81232021265.04072021
Batani, J., & Maharaj, M. (2022). Towards data-driven models for diverging emerging technologies for maternal, neonatal and child health services in Sub-Saharan Africa: a systematic review. Global Health Journal, 6(4), 183–191. https://doi.org/10.1016/j.glohj.2022.11.003
Brinson, A. K., Jahnke, H. R., Henrich, N., Karwa, S., Moss, C., & Shah, N. (2024). 201 Digital health utilization during pregnancy and the likelihood of preterm birth. <i>American Journal of Obstetrics and Gynecology</i>. https://doi.org/10.1016/j.ajog.2023.11.223
Brusniak, K., Arndt, H. M., Feisst, M., Haßdenteufel, K., Matthies, L. M., Deutsch, T. M., Hudalla, H., Abele, H., Wallwiener, M., & Wallwiener, S. (2020). Challenges in Acceptance and Compliance in Digital Health Assessments During Pregnancy: Prospective Cohort Study. JMIR mHealth and uHealth, 8(10), e17377. https://doi.org/10.2196/17377
CEJAM. (2023, 14 de julho). Hospitais municipais de São Paulo implementam UTI Neonatal Neurológica Digital. Recuperado de https://cejam.org.br/noticias/hospitais-municipais-de-sao-paulo-implementam-uti-neonatal-neurologica-digital
Correa, J. S., Neto, A. P. d. A., Pinto, G. R., Lima, L. D. B., & Teles, A. S. (2023). Lhia: A Smart Chatbot for Breastfeeding Education and Recruitment of Human Milk Donors. Applied Sciences, 13(12), 6923. https://doi.org/10.3390/app13126923
Digital health and telehealth for pregnancy (pp. 187–199). (2022). Elsevier eBooks. https://doi.org/10.1016/b978-0-323-90557-2.00021-2
Ethical Considerations in Digital Health (pp. 67–82). (2022). Productivity Press eBooks. https://doi.org/10.4324/9781003054849-4
Gondim, D. A. D., Campos, M. R., & Castanheira, D. (2024). Evaluation of the structure of primary maternal and infant healthcare in the state of Roraima, the North region of Brazil, and Brazil, 2012-2017. Ciencia & Saude Coletiva, 29(10). https://doi.org/10.1590/1413-812320242910.03462023en
Gupta, M., Mishra, A., & Kumar, P. (2024). Impact of Digitalization in Maternal Healthcare. Advances in Medical Technologies and Clinical Practice Book Series, 207–227. https://doi.org/10.4018/979-8-3693-3711-0.ch009
Hospitais Brasil. (2023, 28 de abril). PBSF implementa conceito de UTI Neonatal Neurológica Digital no Complexo Hospitalar Irmã Dulce. Recuperado de https://portalhospitaisbrasil.com.br/pbsf-implementa-conceito-de-uti-neonatal-neurologica-digital-no-complexo-hospitalar-irma-dulce
Hossain MM, Kashem MA, Islam MM, Sahidullah M, Mumu SH, Uddin J, Aray DG, de la Torre Diez I, Ashraf I, Samad MA. Internet of Things in Pregnancy Care Coordination and Management: A Systematic Review. Sensors (Basel). 2023 Nov 23;23(23):9367. https://doi.org/10.3390/s23239367
Jusuf, E. C., Kumala, R., & Adriano, A. (2023). Tinjauan Hukum Kerahasiaan Rekam Medis dalam Laporan Kesehatan Ibu dan Anak Berbasis Digital. Wajah Hukum, 7(1), 23. https://doi.org/10.33087/wjh.v7i1.1012
Khan, M., Khurshid, M., Vatsa, M., Singh, R., Duggal, M., & Singh, K. (2022). On AI Approaches for Promoting Maternal and Neonatal Health in Low Resource Settings: A Review. Frontiers in Public Health, 10. https://doi.org/10.3389/fpubh.2022.880034
King's College London. (2025, March 27). AI could help sonographers identify abnormalities in unborn babies more quickly. King's College London News. https://www.kcl.ac.uk/news/ai-could-help-sonographers-identify-abnormalities-in-unborn-babies-more-quickly
Kwok, T. C., Henry, C., Saffaran, S., Meeus, M., Bates, D., Van Laere, D., Boylan, G., Boardman, J. P., & Sharkey, D. (2022). Application and potential of artificial intelligence in neonatal medicine. Seminars in fetal & neonatal medicine, 27(5), 101346. https://doi.org/10.1016/j.siny.2022.101346
Latifah, E., Siregar, K., & Delmaifanis, D. (2023). The Role of Digital Health in the Early Detection and Management of Obstetric Complications in the Community: A Systematic Review. Open Access Macedonian Journal of Medical Sciences. https://doi.org/10.3889/oamjms.2023.11391
Ming, D., Merriel, A., Freeman, D. M. E., Kingdon, C., Chimwaza, Y., Islam, M. S., Cass, A. E. G., Greenfield, B., Malata, A., Hoque, M., Saha, S., & Holmes, A. (2024). Advancing the management of maternal, fetal, and neonatal infection through harnessing digital health innovations. The Lancet Digital Health. https://doi.org/10.1016/s2589-7500(24)00217-6
Nemer, M., Khader, Y., Alyahya, M. S., Sahay, S., & Abu-Rmeileh, N. M. E. (2023). Personal data governance and privacy in digital reproductive, maternal, newborn, and child health initiatives in Palestine and Jordan: a mapping exercise. Frontiers in Digital Health, 5. https://doi.org/10.3389/fdgth.2023.1165692
Neto, V. P., Machado, C., Lima, F. E. de F., Román, S., & Dutra, G. J. (2024). Inequalities in the geographic access to delivery services in Brazil. BMC Health Services Research, 24(1). https://doi.org/10.1186/s12913-024-12042-4
Orellana, J. D. Y., Jacques, N., Leventhal, D. G. P., Marrero, L., & Morón-Duarte, L. S. (2022). Excess maternal mortality in Brazil: Regional inequalities and trajectories during the COVID-19 epidemic. PLOS ONE, 17(10), e0275333. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0275333
Paton, A. (2022). The surveillance of pregnant bodies in the age of digital health (pp. 476–485). Routledge eBooks. https://doi.org/10.4324/9781003016885-40
Prihatini, F. (2024). Innovations in Maternity Nursing Care: Integrating Technology to Improve Prenatal and Postnatal Health. https://doi.org/10.59613/global.v2i9.295
Ramakrishnan, R., Rao, S., & He, J.-R. (2021). Perinatal health predictors using artificial intelligence: A review. Women’s Health, 17. https://doi.org/10.1177/17455065211046132
Silva, A. G. da, Alves, V. H., Dulfe, P. A. M., Rodrigues, D. P., Pereira, A. V., & Barcellos, J. G. (2018). Acesso à assistência ao parto hospitalar de risco habitual: uma revisão integrativa. 8(3), 591–604. https://doi.org/10.5902/2179769225258
Silva, C. S. da, Moura, K., Boechat, G. G., Reyes, Y. M. C., Batista, A., Marin, I. S., Samuelsson, F., Casagrande, M. C., Holovka, D. A. P., & Santos, L. B. B. (2024). Inovações em saúde materna: avanços tecnológicos e melhorias na assistência obstétrica. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. https://doi.org/10.51891/rease.v10i1.13105
Sullivan, B. A., Beam, K., Vesoulis, Z. A., Aziz, K. B., Husain, A. N., Knake, L. A., Moreira, A. G., Hooven, T. A., Weiss, E. M., Carr, N. R., El-Ferzli, G. T., Patel, R. M., Simek, K. A., Hernandez, A. J., Barry, J. S., & McAdams, R. M. (2024). Transforming neonatal care with artificial intelligence: challenges, ethical consideration, and opportunities. Journal of perinatology : official journal of the California Perinatal Association, 44(1), 1–11. https://doi.org/10.1038/s41372-023-01848-5
Van Hauwaert, R., Mateus, A. R., Coutinho, A. L., Rodrigues, J., Martins, A., Vilela, F., & Almeida, D. (2024). The Role of Digital Health Technologies on Maternal Health Literacy (pp. 47–65). IGI Global. https://doi.org/10.4018/979-8-3693-1214-8.ch003
Vesoulis, Z. A., Husain, A. N., & Cole, F. S. (2023). Improving child health through Big Data and data science. Pediatric Research, 93(2), 342–349. https://doi.org/10.1038/s41390-022-02264-9