Da Constituição à inteligência artificial: como o Sistema Único de Saúde abraça a tecnologia para transformar o atendimento ao cidadão
O Sistema Único de Saúde (SUS), criado em 1988, celebra seu aniversário de 35 anos em 19 de setembro de 2025. Ao longo de sua história, o SUS evoluiu e se adaptou para incorporar inovações tecnológicas, especialmente na área da saúde digital. Essa jornada transformou a gestão, o acesso e a qualidade dos serviços oferecidos à população brasileira.
A trajetória do SUS na era digital é marcada por fatos importantes que consolidaram a saúde como um direito e a tecnologia como uma ferramenta essencial. Abaixo, uma linha do tempo com os principais avanços, incluindo as relevantes contribuições do Departamento de Informática em Saúde (DIS) da Unifesp:
1988 - Criação do SUS pela Constituição Federal
1991 - Fundação do DATASUS e início da informatização
1993 - Desenvolvimento do Clinic Manager pelo DIS (registrado em 1994) - Centro de Informática em Saúde CIS-EPM
1994 - Início da proposta do Cartão Nacional de Saúde (CNS)
1994 - Inauguração da Rede Acadêmica (REPM) da Unifesp
1999 - Fundação do Departamento de Informática em Saúde (DIS) na Escola Paulista de Medicina - EPM/Unifesp
2002 - Registro do NutWin no INPI
2003 - Credenciamento da primeira pós-graduação em Informática em Saúde do país na Unifesp
2004 - Criação do primeiro Laboratório de Telemedicina da Unifesp
2006/2007 - Lançamento do programa Telessaúde Brasil
2007 - Primeira versão do Curso de Especialização em Informática em Saúde da UAB/Unifesp
2009 - Criação do UNASus pelo Ministério da Saúde com o objetivo de atender às necessidades de capacitação e educação permanente dos profissionais do SUS
2011 - Lançamento do e-SUS AB e expansão da Rede Universitária de Telemedicina (RUTE)
2013 - Criação do Núcleo Estadual Telessaúde São Paulo/Unifesp
2016- Registro da Plataforma PegaSUS
2017 - Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020–2028 e lançamento do aplicativo e-Saúde
2019 - Lançamento do ConecteSUS
2020 - Adoção emergencial da telemedicina devido à pandemia de Covid-19
2021 - Regulamentação da Telemedicina e Conecte SUS como referência
2022 - Programa "Brasil + Digital" e avanços na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS)
2022 - Criação do Laboratório de Inovação em Saúde - LABDIS
2023 - Estratégia Nacional de Saúde Digital 2023–2033 e Projeto IDs
2023 - Projeto IDs - Inteligência Digital em Saúde
2024 - Lançamento do Programa SUS Digital
2024 - Início do projeto Inovações assistenciais e de gestão na perspectiva da Saúde Digital
2025 - Fortalecimento da cultura digital e Inteligência Artificial em Saúde
Esses avanços demonstram o compromisso contínuo do SUS em se modernizar e oferecer um atendimento cada vez mais eficiente e acessível à população, utilizando a tecnologia como um pilar fundamental para a saúde pública no Brasil.
A jornada da informatização em saúde no Brasil ganhou um impulso significativo com a inauguração do Centro de Informática em Saúde (CIS-EPM) em 1988, na Escola Paulista de Medicina, que mais tarde se tornaria o Departamento de Informática em Saúde (DIS) da Unifesp. Desde sua fundação, o DATASUS, criado em 1991, tem sido o pilar da informatização da saúde pública, desenvolvendo e mantendo sistemas cruciais para a coleta de dados epidemiológicos, como o SINASC e o SIM.
Em 1999, com o apoio do Conselho Universitário, foi fundado o Departamento de Informática em Saúde (DIS) na Unifesp, o primeiro do país, consolidando a pesquisa e o desenvolvimento na área. O DIS, por sua vez, foi pioneiro no desenvolvimento de sistemas como o Clinic Manager em 1993 (registrado em 1994), um dos primeiros produtos de informática em saúde registrados em nome de uma universidade federal no país. O NutWin (Sistema de Apoio à Decisão em Nutrição) começou a ser desenvolvido em 1986, inicialmente como uma base de dados para avaliar a dieta de pacientes renais crônicos. Em 1996, ganhou uma versão para Windows, passando a oferecer interface gráfica mais amigável e recursos avançados. A versão consolidada em 2003 ampliou a base para cerca de 950 alimentos e trouxe módulos de avaliação nutricional, desempenho físico e geração de dietas personalizadas. Registrado no INPI em 2002, o NutWin se tornou uma das ferramentas pioneiras no Brasil para apoio a profissionais de nutrição, sendo distribuído em instituições de ensino, pesquisa e centros de avaliação nutricional.
A proposta do Cartão Nacional de Saúde (CNS), iniciada em 1994, visava identificar usuários e integrar dados clínicos, um precursor do que se tornaria o principal identificador do usuário do SUS, e a Rede Acadêmica (REPM) da Unifesp foi inaugurada no mesmo ano, estabelecendo as bases para a comunicação digital na área da saúde.
A virada do milênio trouxe a consolidação da área de informação e informática em saúde no Ministério da Saúde, com a estruturação de bases de dados nacionais. Ferramentas como o TABWIN e o TABNET, consolidadas entre 2000 e 2005, permitiram a análise aprofundada de dados de saúde, digitalizando informações epidemiológicas e estatísticas. Em 2003, a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e o Programa Nacional de Informatização do SUS (DATASUS) foram lançados, com o objetivo de unificar as informações de saúde. No mesmo ano, a Unifesp, com o apoio do DIS, obteve o credenciamento para operar a primeira pós-graduação em Informática em Saúde do país, consolidando a formação de recursos humanos especializados na área.
A Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS), estabelecida em 2004, delineou as diretrizes para o uso da tecnologia da informação no SUS. O programa Telessaúde Brasil, lançado em 2006/2007, marcou o início da telemedicina no país, focando no apoio à atenção básica em áreas remotas. O DIS, por sua vez, já havia estabelecido seu Setor de Telemedicina (SET-DIS) em 1999 e, em 2004, montou o primeiro Laboratório de Telemedicina da Unifesp, contribuindo para a pesquisa e desenvolvimento na área. Paralelamente, o projeto-piloto do Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC) começou a substituir os registros em papel, um passo fundamental para a segurança e acessibilidade das informações do paciente.
O Curso de Especialização em Informática em Saúde, ofertado pela Unifesp desde 2007 em parceria com o sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB/CAPES), foi o primeiro curso a distância da instituição e permanece como referência nacional na formação em saúde digital. Gratuito e público, já capacitou mais de 1.800 profissionais de diferentes áreas para atuar em pesquisa, gestão e inovação no SUS, com foco em temas como prontuário eletrônico, telemedicina, telessaúde e sistemas de informação em saúde. Em sua oitava edição (2025–2027), o curso segue alinhado às diretrizes da Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS) e da Estratégia Nacional de Saúde Digital, fortalecendo a formação de agentes públicos e gestores para aprimorar os serviços de saúde no Brasil.
O ano de 2011 foi um marco com o lançamento do e-SUS AB, um sistema eletrônico para informatizar a Atenção Básica, e a expansão da Rede Universitária de Telemedicina (RUTE). A criação da Secretaria de Informação e Saúde Digital intensificou as políticas públicas de gestão informacional. A Estratégia e-SUS Atenção Básica, lançada em 2013, integrou o PEC e o CNS, tornando este último o principal identificador do usuário do SUS.
O Núcleo Estadual Telessaúde São Paulo/Unifesp foi um centro de referência em saúde digital que integrou atividades de teleconsultoria, teleducação e inovação tecnológica para apoiar os profissionais da Atenção Básica e da Atenção Primária em Saúde do SUS. Desde 2014, atuou como parte do Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes, oferecendo suporte técnico e científico a municípios do estado de São Paulo. Com uma equipe multiprofissional e infraestrutura tecnológica avançada, o núcleo qualificou milhares de profissionais da rede, promoveu mais de mil teleconsultorias e contribuiu para a melhoria da resolutividade na atenção à saúde. Sua missão combinou tradição e inovação, transformando conhecimento em práticas que contribuiram para fortalecer o SUS e ampliaram o acesso a cuidados de qualidade.
O combate ao Zika vírus em 2015 demonstrou a capacidade do SUS de usar tecnologias digitais para monitoramento e disseminação de informações em emergências de saúde pública, além de impulsionar as primeiras experiências de teleconsulta. Em 2017, a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020–2028 alinhou as políticas nacionais com padrões internacionais, e o lançamento do aplicativo e-Saúde permitiu aos cidadãos acesso direto a informações de saúde.
A Plataforma PegaSUS, desenvolvida no âmbito do Núcleo Telessaúde Unifesp, é uma ferramenta digital que facilita a realização de teleconsultorias entre profissionais de saúde da atenção básica e especialistas. Por meio dela, médicos, enfermeiros e outros profissionais podem registrar casos clínicos, anexar exames e solicitar orientações utilizando classificações internacionais como CIAP-2 e CID-10. Com prazo de resposta de até 72 horas, o PegaSUS contribui para reduzir incertezas diagnósticas, melhorar protocolos de atendimento e fortalecer o trabalho colaborativo, ampliando a resolutividade do SUS com apoio da saúde digital
A integração do Sistema e-SUS AB e SIH em 2018 fortaleceu o fluxo de informações entre a atenção básica e hospitalar. Em 2019, o ConecteSUS foi lançado como uma plataforma digital abrangente para cidadãos e profissionais de saúde, reunindo informações clínicas, vacinas e histórico de atendimentos.
A pandemia de Covid-19 em 2020 acelerou a adoção da telemedicina e do telemonitoramento em larga escala, com regulamentação emergencial e intensificação do uso de dados para acompanhamento da crise. O Conecte SUS se tornou uma ferramenta essencial para a comprovação de vacinação e acesso a serviços digitais, e a telemedicina foi definitivamente consolidada no Brasil em 2021.
O Programa "Brasil + Digital" em 2022 intensificou o investimento em saúde digital, incluindo infraestrutura, sistemas de dados, inteligência artificial e big data. A Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) continuou a avançar na integração e interoperabilidade das informações.
Em 2023, a Estratégia Nacional de Saúde Digital 2023–2033 atualizou o planejamento para a transformação digital do SUS, com a implantação do e-SUS Saúde, que integra dados e utiliza inteligência artificial para suporte à decisão clínica.
O Projeto IDs, desenvolvido pela Unifesp em parceria com o CNPq, lançou o questionário "Teste IDs" para avaliar a maturidade da inteligência digital em saúde de profissionais da atenção básica do SUS.
O LABDIS – Laboratório de Criatividade, Empreendedorismo e Inovação em Saúde, vinculado ao Departamento de Informática em Saúde da Unifesp, é um espaço dedicado à experimentação tecnológica e à cocriação de soluções para os desafios da saúde. Reconhecido como projeto de extensão universitária e parte da PNIPE/MCTI, o LABDIS conecta ciência, tecnologia e impacto social, oferecendo estações voltadas à prototipagem 3D, inteligência artificial, ciência de dados e simulação imersiva. Seu propósito é formar lideranças inovadoras, estimular a cultura empreendedora e transformar conhecimento científico em impacto real para a sociedade e para o SUS.
O Ministério da Saúde destacou sete prioridades para a Estratégia de Saúde Digital em 2023, visando a informatização dos três níveis de atenção à saúde e a potencialização da RNDS. Em 2024, o Programa SUS Digital foi lançado, com adesão de quase a totalidade dos municípios, focando em interoperabilidade, telemedicina, inteligência artificial e participação cidadã via aplicativos móveis como o Meu SUS Digital.
Em 2025, o SUS busca o fortalecimento da cultura digital, a universalização do acesso ao Prontuário Eletrônico do Cidadão e a ampliação da telemonitorização, além do uso preditivo de dados para emergências. Projetos-piloto de Inteligência Artificial em Saúde, como os do Núcleo de Telessaúde São Paulo – Unifesp, fortalecem o uso de IA para diagnóstico e apoio à decisão clínica, consolidando a transformação digital no SUS.
Autoria do texto original: Andréa Pereira Simões Pelogi
Revisão técnica: Vitor Tonini
Data de Publicação: 19/09/2025
Aviso: As informações apresentadas neste artigo têm caráter informativo e não substituem orientação profissional especializada. O Departamento de Informática em Saúde não se responsabiliza por eventuais erros ou interpretações incorretas do conteúdo divulgado.